Risco de suicídio é maior entre jovens indígenas
“Entre 14 e 29 anos, o grosso está aí nessa faixa, jovem, masculina, muito provavelmente essa associação entre contextos tensos violentos e suicídios de jovens que apontam para situações meio sem saída. Uma tentativa de procurar espaços em outas dimensões, espirituais, sobretudo, onde há paz.”
Diante das altas taxas de suicídio indígena, no Brasil, um ponto específico gera ainda mais preocupação: o adoecimento mental e o suicídio entre os jovens indígenas. Essa realidade é diferente do restante da população brasileira, já que o maior risco de suicídio entre os não indígenas é maior entre os idosos, segundo o Ministério da Saúde.
Explicar o que motiva esse adoecimento tão precoce não é tarefa simples, até mesmo para os especialistas. A psiquiatra e pesquisadora associada da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jacyra Araújo atribui o problema à questão cultural.
“Alguns autores acreditam que os jovens indígenas são mais vulneráveis já que eles estão mais deslocados da cultura deles do que os idosos e eles estão vivendo uma deterioração do meio em que eles vivem mais intensa do que os idosos indígenas. E isso pode estar adicionando o acesso ao álcool e a dificuldade de acesso ao tratamento em saúde mental levando os mais jovens a optarem pelo suicídio.”
O relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), revela que, no ano passado, de cada três indígenas que tiraram a própria vida, um tinha no máximo 19 anos. A antropóloga Lucia Helena Rangel, que elaborou esse levantamento, explica que a situação é mais grave entre os homens jovens que, diante de tanta violência, se veem sem saída.
“Entre 14 e 29 anos, o grosso está aí nessa faixa, jovem, masculina, muito provavelmente essa associação entre contextos tensos violentos e suicídios de jovens que apontam para situações meio sem saída. Uma tentativa de procurar espaços em outas dimensões, espirituais, sobretudo, onde há paz.”
O adoecimento mental da população gera preocupação, também, para o Ministério da Saúde, responsável pelas políticas públicas de combate ao problema, como destaca o psicólogo da Secretaria de Saúde Indígena da pasta, Matheus Cruz.
“A faixa etária que mais preocupa é a de 15 a 29 anos e isso se deve muitas vezes a fatores como conflitos geracionais, familiares, passagem para a vida adulta, mas também outros fatores socioeconômicos, que se manifestam pela ausência de projetos sociais, projetos que envolvam perspectiva profissionalizante, e os processos de alcoolização, que se encontram intensos em algumas localidades, acabam se associando à baixa perspectiva de crescimento socioeconômico de alguns jovens.”
De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, de 2021, o triste cenário que leva jovens indígenas a desistirem da própria vida pode ser explicado pela passagem para a vida adulta, que chega como um momento crítico, sobretudo nas transformações socioculturais, a partir do contato com a sociedade não indígena.
Fonte: Agência Brasil