Gleisi nega que o ‘PT acha tudo errado’ e critica Haddad por antecipar discussão sobre sucessão de Lula
Presidente do PT avalia que é dever do partido fazer alertas sobre a economia
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, respondeu nesta terça-feira às declarações feitas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista exclusiva ao GLOBO, de que o partido não pode celebrar os resultados na economia ao mesmo tempo que o chama de “austericida” e diz que “está tudo errado”. A dirigente partidária disse ao GLOBO que a legenda não acha que “está tudo errado” nas ações do ministro, mas falou que há preocupação com uma “política fiscal contracionista”.
– É um direito do partido e até um dever fazer esses alertas e esse debate, isso não tem nada de oposição ao ministro e nem a ninguém. É da nossa tradição – declarou a presidente do PT.
Gleisi também criticou o fato de Haddad ter falado que é preciso discutir a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro da Fazenda afirmou que Lula deve ser candidato à reeleição em 2026, mas apontou que é preciso discutir nomes para as eleições seguintes.
– Acho extemporânea a discussão sobre a sucessão do presidente Lula. Nós precisamos fazer com que tudo dê certo porque é isso que vai garantir a sucessão, inclusive a reeleição de Lula na próxima eleição. Temos que entregar resultados ao povo brasileiro, foi para isso que a gente elegeu o presidente Lula e fizemos o enfrentamento que fizemos ao longo desse tempo – disse Gleisi.
Em entrevista ao GLOBO, Haddad comentou, sem citar nomes, sobre ter críticos dentro do PT.
– Olha, é curioso ver os cards que estão sendo divulgados pelos meus críticos sobre a economia, agora por ocasião do Natal. O meu nome não aparece. O que aparece é assim: “A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!” E o Haddad é um austericida. Então, ou está tudo errado ou está tudo certo. Tem uma questão que precisa ser resolvida, que não sou eu que preciso resolver.
Além de Gleisi, outros integrantes do partido, como o líder da legenda na Câmara, Zeca Dirceu (PR), e o deputado Lindbergh Farias (RJ), também comentaram sobre o assunto. Lindbergh reclamou nas redes sociais que o governo adota “política dura de austeridade”, enquanto o líder do PT disse à CNN que os críticos a Haddad são minoria dentro do partido.
Um documento aprovado pelo Diretório Nacional do PT em dezembro diz que o país precisa se libertar do “austericídio fiscal”. Gleisi disse que a resolução não faz menção a nenhum ministro do governo e que o texto serve para mostrar preocupações com a política fiscal.
– Não é verdade que a nossa resolução diz que está tudo errado e tem que mudar tudo. Não tem uma linha que fale isso, muito pelo contrário. Acho que com tanto empenho em negociações com o Congresso sobre a agenda econômica, o ministro Haddad talvez não tenha tido a ocasião de ler integralmente a resolução do Diretório Nacional do PT, de 8 de dezembro – declarou
– É uma resolução que não trata individualmente de nenhum ministro, a gente trata do governo do Lula como um todo, sobre política econômica e social. Destacamos fortemente os indicadores positivos, inclusive da economia, uma economia que o mercado previa que ia crescer 0,9, cresceu três pontos percentuais – completou.
Por outro lado, a presidente do PT criticou duas medidas defendidas por Haddad. O arcabouço fiscal, que condiciona o crescimento de despesas a um bom resultado fiscal, e a meta de zerar o déficit em 2024. De acordo com ela, isso vai “diminuir o papel do Estado no desenvolvimento da economia”.
– A nossa resolução é positiva para o governo, o que nós criticamos foi a política monetária do Banco Central, dizendo que com uma política monetária contracionista, que vai continuar, os juros estão caindo a conta gotas na nossa visão, a gente não pode ter uma política fiscal contracionista – disse.
– Nós colocamos preocupação com esse desafio que temos na política fiscal. O arcabouço somado ao déficit zero vai diminuir muito o papel do Estado no desenvolvimento da economia se continuar assim, essa é a nossa preocupação, foi isso que nós falamos. Jamais criticamos e dissemos que está tudo errado – completou.
A presidente do partido declarou que pretende conversar com Haddad sobre o assunto e negou que o partido faça oposição ao ministro.
– Não estou em Brasília e não falei com ele. Quando eu voltar, não tem problema nenhum, é conversando que a gente se entende, inclusive falando as coisas.
Gleisi também declarou que o PT sempre apoiou as iniciativas do governo na economia.
– O PT sempre foi muito solidário ao governo. Votando integralmente com o governo em todas as votações, inclusive nas econômicas, reconhecemos a importância da tributação dos fundos offshore, dos fundos de super rico, o voto de qualidade do Carf, a compensação do ICMS e outras.
A petista atribuiu os bons resultados na economia a uma emenda à Constituição aprovada no final de 2022, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter sido eleito, e que abriu espaço fiscal no orçamento do ano passado.
– (Na resolução do PT) Falamos da PEC da Transição, a importância que ela teve no papel do Estado de retomar políticas importantes, como o aumento real do salário mínimo, a desoneração da tabela do Imposto de Renda, a reformulação do Bolsa Família, o programa Farmácia Popular, falamos também do Desenrola, que foram programas que colocaram dinheiro na economia brasileira. O aumento do salário tem um impacto imenso quando se olha para os aposentados brasileiros. Isso, junto com o crescimento da agricultura, levou o PIB a 3%, foi muito importante.
Fonte: O Globo