Conflito Israel-Hamas: o que se sabe sobre confrontos que deixaram mais de 200 mortos
Dezenas de homens armados do grupo palestino Hamas se infiltraram no sul de Israel a partir da Faixa de Gaza num ataque surpresa realizado neste sábado (7/10).
Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram supostos militantes palestinos atirando em transeuntes nas ruas da cidade israelense de Sderot.
Também foram registrados disparos de milhares de foguetes vindos de Gaza.
Logo após os ataques, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, postou um vídeo nas redes sociais dizendo que o país “está em guerra”.
“Convoquei os chefes do sistema de segurança, e antes de mais nada os instruí a limpar os assentamentos dos terroristas que se infiltraram — esta operação está acontecendo agora”, declarou ele.
O ministro da Defesa de Israel disse que o Hamas “cometeu um grave erro e lançou uma guerra” contra o próprio país.
“As tropas [israelenses] estão lutando contra o inimigo em todos os locais”, acrescentou Yoav Gallant. “O Estado de Israel vencerá esta guerra.”
As Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que entraram em prontidão para guerra e que dezenas de caças estavam realizando ataques aéreos contra instalações do Hamas em Gaza.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, diz que o seu povo tem o direito de se defender contra o “terror dos colonos e das tropas de ocupação”, de acordo com a agência de notícias Reuters.
Os serviços de emergencia de Israel calculam que pelo menos 70 pessoas morreram após os ataques. O ministério da Saúde do país estima que pelos menos 740 indivíduos estão feridos.
O contra-ataque israelense em Gaza deixou pelo menos 198 palestinos mortos e mil feridos, segundo as autoridades locais.
Há relatos de que israelenses (civis e militares) foram capturados e são mantidos como reféns pelos palestinos.
Nas últimas horas, líderes mundiais se manifestaram sobre o ocorrido e condenaram os atos de violência (leia mais abaixo).
O jornalista Jeremy Bowen, editor de Internacional da BBC News, classificou o ataque como “surpreendente e sem precedentes”.
“Para israelenses e palestinos, esta é uma manhã totalmente inesperada e altamente preocupante”, escreveu ele.
O disparo de foguetes a partir de Gaza — que é governada pelo Hamas — começou logo após o amanhecer deste sábado, no final do feriado judaico de Sucot.
Enquanto as sirenes soavam em Israel, as FDI anunciaram que “terroristas” se infiltraram no território israelita “em vários locais diferentes”.
As forças de Defesa pediram aos civis que moram na região que fiquem próximos de abrigos.
Imagens postadas na internet parecem mostrar um grupo de militantes palestinos fortemente armados, vestidos com uniformes pretos, dirigindo uma caminhonete pela cidade de Sderot.
Num outro vídeo, os mesmos indivíduos pareciam trocar tiros com as forças israelitas nas ruas da cidade, que fica a apenas 1,6 km de Gaza.
Acredita-se que alguns reféns israelenses foram levados pelos palestinos para algumas das pequenas cidades perto da Faixa de Gaza. Outros foram encaminhados para Gaza.
O vice-chefe do gabinete político do Hamas, Saleh al-Arouri, afirmou que “oficiais de alta patente” do Exército de Israel foram capturados
Ele disse ao canal Al Jazeera que “o que está em nossas mãos libertará todos os prisioneiros” em Israel — uma aparente referência aos palestinos detidos em prisões israelenses.
“Há muitos palestinos mortos e muitos israelenses mortos, bem como prisioneiros, e a batalha ainda está no auge”, disse al-Arouri.
O porta-voz também declarou que o Hamas está pronto para enfrentar uma incursão terrestre israelense em Gaza, que ele descreveu como “o melhor cenário para resolvermos o conflito contra o inimigo”.
Nenhuma destas alegações pode ser verificada de forma independente pela BBC neste momento, e as autoridades israelenses não comentaram nenhum dos vários relatos de tomada de reféns.
Há relatos não confirmados nos meios de comunicação palestinos de que vários israelitas foram capturados por militantes. Também circulam imagens de palestinos em Gaza conduzindo veículos militares de Israel.
Enquanto isso, os disparos de mísseis continuaram a acontecer durante o sábado.
Evento ‘sem precedentes’
Para Jeremy Bowen, editor de Internacional da BBC News, os últimos acontecimentos em Israel não tem precedentes nos mais de 15 anos desde que o Hamas ganhou controle sob a faixa de Gaza.
“O ataque ocorre depois de meses de violência e tensão crescente entre israelenses e palestinos, embora a maior parte dos conflitos esteja concentrada na Cisjordânia, que é o território ocupado por Israel desde 1967, que se estende entre Jerusalém e a fronteira com a Jordânia”, escreve ele.
“A situação atual vai evoluir rapidamente e é provável que se agrave. Uma grande questão é o que acontece agora — não apenas nos arredores de Gaza — mas também em Jerusalém e na Cisjordânia, onde há meses se verifica uma violência cada vez mais profunda.”
“Para israelenses e palestinos, esta é uma manhã totalmente inesperada e altamente preocupante”, conclui Bowen.
Já Frank Gardner, correspondente de segurança da BBC News, avalia que “os eventos das últimas horas revelam uma colossal falha de inteligência de Israel”.
“O país possui uma das redes de inteligência mais extensas e sofisticadas do Oriente Médio. Israel mantém informantes em grupos militantes não apenas nos territórios palestinos, mas também no Líbano, na Síria e em outros locais.”
“O Hamas conseguiu planejar e lançar este ataque cuidadosamente coordenado contra Israel, aparentemente em total sigilo”, escreve Gardner.
“Israel retaliará com força maciça, como se espera. Mas os israelenses se perguntarão agora por que é que os espiões do país não previram e alertaram sobre esse ataque.”
Reações pelo mundo
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, denunciou relatos de civis feitos reféns. Ele classificou o ato como uma violação do Direito Internacional e exigiu a libertação deles.
Borrell publicou nas redes sociais: “A notícia de civis mantidos como reféns em casa ou em Gaza é terrível. Vai contra o Direito Internacional. Os reféns devem ser libertados imediatamente.”
“Esta violência horrível deve parar imediatamente. O terrorismo e a violência não resolvem nada.”
O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, declarou estar “chocado pelos ataques promovidos pelo Hamas contra cidadãos israelenses”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, condenou veementemente os ataques, e expressou “total solidariedade com as vítimas, as famílias e os entes queridos”.
Já a ministra de Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, disse que “a violência e os mísseis contra civis inocentes devem parar agora”.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, descreveu o ataque como “terrorismo na sua forma mais desprezível”.
O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, divulgou uma declaração sobre os ataques a Israel por militantes palestinos.
“Estou monitorando de perto os desenvolvimentos em Israel. Nosso compromisso com o direito de Israel de se defender permanece inabalável, e apresento minhas condolências às famílias daqueles que perderam suas vidas neste ataque abominável contra civis”, declarou ele.
“Nos próximos dias, o Departamento de Defesa trabalhará para garantir que Israel tenha o que necessita para se defender e proteger os civis da violência indiscriminada e do terrorismo”.
Já representantes das Relações Exteriores da Rússia pediram “moderação” aos envolvidos.
O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, deu apoio ao ataque palestino a Israel.
“Parabenizamos os combatentes palestinos”, disse Rahim Safavi, segundo a agência de notícias ISNA.
“Apoiaremos os combatentes até à libertação da Palestina e de Jerusalém”, afirmou ele.
No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota em que “condena a série de bombardeios e ataques terrestres realizados hoje em Israel a partir da Faixa de Gaza”.
“Ao reiterar que não há justificativa para o recurso à violência, sobretudo contra civis, o Governo brasileiro exorta todas as partes a exercerem máxima contenção a fim de evitar a escalada da situação.”
O ministério aponta que não há, até o momento, notícia de vítimas entre a comunidade brasileira em Israel e na Palestina.
“O Brasil lamenta que em 2023, ano do 30º aniversário dos Acordos de Paz de Oslo, se observe deterioração grave e crescente da situação securitária entre Israel e Palestina. Na qualidade de Presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil convocará reunião de emergência do órgão.”
“O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas. Reafirma, ainda, que a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento da questão israelo-palestina, sendo urgente a retomada das negociações de paz”, conclui o texto.
Fonte: News Brasil